
Papa durante missa na Casa Santa Marta/ Foto: Vatican Media
O Papa Francisco presidiu a Missa na Casa Santa Marta na manhã desta
quinta-feira, 30, da III Semana da Páscoa. Na introdução, dirigiu seu
pensamento às vítimas do novo coronavírus: “Rezemos hoje pelos defuntos,
aqueles que morreram por causa da pandemia; e também de modo especial
pelos defuntos – digamos assim – anônimos: vimos as fotografias das
valas comuns. Muitos ali…”.
Na homilia, o Pontífice comentou a passagem do dia do Livro dos Atos
dos Apóstolos (At 8,26-40) que conta o encontro de Filipe com um etíope
eunuco, funcionário de Candace, desejoso de compreender quem era a
pessoa descrita pelo profeta Isaías: “Ele foi levado como ovelha ao
matadouro”. Depois que Filipe lhe explicou que se tratava de Jesus, o
etíope se deixou batizar, recordou o Papa.
É o Pai, afirmou Francisco recordando o Evangelho de hoje (Jo
6,44-51), quem atrai ao conhecimento do Filho: sem essa intervenção não
se pode conhecer o mistério de Cristo. Segundo o Santo Padre, foi o que
aconteceu com o funcionário etíope, que ao ler o profeta Isaías tinha
uma inquietude colocada pelo Pai em seu coração. Isso, observou o Santo
Padre, vale também para a missão: nós não convertemos ninguém, é o Pai
que atrai. Nós podemos simplesmente dar um testemunho de fé. O Pai atrai
através do testemunho de fé.
O Papa afirmou ser preciso pedir que o Pai atraia as pessoas a Jesus:
são necessários o testemunho e a oração. Esse é o centro do nosso
apostolado. “Perguntemo-nos: dou testemunho com meu estilo de vida, rezo
para que o Pai atraia as pessoas a Jesus? Ir em missão não é fazer
proselitismo, é testemunhar. Nós não convertemos ninguém, é Deus que
toca o coração das pessoas”. Peçamos ao Senhor a graça de viver nosso
trabalho com o testemunho e com a oração para que Ele possa atrair as
pessoas a Jesus, rogou o Pontífice.
Íntegra da homilia
“Ninguém pode vir a mim, se o Pai que me enviou não o atrai”: Jesus
recorda que também os profetas tinham preanunciado isto: “E todos serão
instruídos por Deus”. É Deus quem atrai ao conhecimento do Filho. Sem
isso, não se pode conhecer Jesus. Sim se pode estudar, inclusive estudar
a Bíblia, também conhecer como nasceu, o que fez: isso sim. Mas
conhecê-Lo interiormente, conhecer o mistério de Cristo é somente para
aqueles que foram atraídos pelo Pai para isso.
Foi o que aconteceu a este ministro da economia da rainha da Etiópia.
Vê-se que era um homem piedoso e que reservou um tempo, em meio aos
muitos negócios que tinha a fazer, para ir adorar Deus. Um fiel. E
voltava à pátria lendo o profeta Isaías. O Senhor pegou Filipe, enviou-o
àquele lugar e depois lhe disse: “Aproxima-te desse carro”, e ouve o
ministro que está lendo Isaías. (Ele) se aproxima e lhe faz uma
pergunta: “Compreendes?” – “Como posso, se ninguém mo explica?”, e faz a
pergunta: “De quem o profeta está dizendo isso?” Peço-te, suba no
carro”, e durante a viagem – não sei quanto tempo, penso que ao menos
duas horas – Filipe explicou: explicou Jesus (conf. versículos 26-35).
Aquela inquietude que este senhor tinha na leitura do profeta Isaías
era propriamente do Pai, que atraia a Jesus: o tinha preparado, o tinha
levado da Etiópia a Jerusalém para adorar Deus e depois, com essa
leitura, tinha preparado o coração para revelar Jesus, a ponto que assim
que viu a água disse: “Posso ser batizado”. E ele acreditou.
E isso – que ninguém pode conhecer Jesus sem que o Pai o atraia –,
isso é válido para o nosso apostolado, para a nossa missão apostólica
como cristãos. Penso também nas missões. “O que você vai fazer nas
missões?” – “Eu, converter as pessoas” – “Pare, você não vai converter
ninguém! Será o Pai a atrair aqueles corações para reconhecer Jesus”. Ir
em missão é dar testemunho da própria fé; sem testemunho você não fará
nada. Ir em missão – e são bons missionários! – não significa criar
grandes estruturas, coisas… e parar por aí. Não: as estruturas devem ser
testemunhos. Você pode fazer uma estrutura hospitalar, educacional de
grande perfeição, de grande desenvolvimento, mas se uma estrutura é sem
testemunho cristão, seu trabalho aí não será um trabalho de testemunha,
um trabalho de verdadeira pregação de Jesus: será uma sociedade de
beneficência, muito boa – muito boa! – mas nada mais.
Se eu quero ir em missão, e digo isso se eu quero ir em apostolado,
devo ir com a disponibilidade que o Pai atraia as pessoas a Jesus, e
isso é feito pelo testemunho. Jesus mesmo o disse a Pedro, quando
confessa que Ele é o Messias: “Feliz és tu, Simão Pedro, porque quem te
revelou isso foi o Pai”. É o Pai que atrai, e atrai com nosso
testemunho. “Eu farei muitas obras, aqui, ali, acolá, de educação,
disso, daquilo outro…”, mas sem testemunho são coisas boas, mas não são o
anúncio do Evangelho, não são lugares que dão a possibilidade que o Pai
atraia ao conhecimento de Jesus (conf. Jo 6,44). Trabalho e o
testemunho.
“Mas como posso fazer para que o Pai se preocupe em atrair essas
pessoas?” A oração. E essa é a oração pelas missões: rezar para que o
Pai atraia as pessoas a Jesus. Testemunho e oração caminham juntos. Sem
testemunho e oração não se pode fazer pregação apostólica, não se pode
fazer anúncio. Você fará uma bonita pregação moral, fará muitas coisas
boas, todas boas. Mas o Pai não terá a possibilidade de atrair as
pessoas a Jesus. E esse é o centro: esse é o centro do nosso apostolado,
que o Pai possa atrair as pessoas a Jesus. Nosso testemunho abre as
portas às pessoas e nossa oração abre as portas ao coração do Pai para
que atraia as pessoas. Testemunho e oração. E isso não é somente para as
missões, é também para nosso trabalho como cristãos. Eu dou testemunho
de vida cristã, realmente, com o meu estilo de vida? Eu rezo para que o
Pai atraia as pessoas a Jesus?
Essa é a grande regra para nosso apostolado, em todos os lugares, e
de modo especial para as missões. Ir em missão não é fazer proselitismo.
Uma vez… uma senhora – uma boa pessoa, se via que era de boa vontade –
se aproximou com dois jovens, um jovem e uma jovem, e me disse: “Este
(jovem), Padre, era protestante e se converteu: eu o converti. E esta
(jovem) era…” – não sei, animista, não sei o que me disse, “e eu a
converti”. E a senhora era boa: boa. Mas errava. Perdi um pouco a
paciência e disse: “Escute-me, a senhora não converteu ninguém: foi Deus
quem tocou o coração das pessoas. E não se esqueça: testemunho, sim;
proselitismo, não”.
Peçamos ao Senhor a graça de viver nosso trabalho com testemunho e
com oração, para que Ele, o Pai, possa atrair as pessoas a Jesus.
Adoração e benção eucarística
O Santo Padre terminou a celebração com a adoração e a bênção
eucarística, convidando a fazer a Comunhão espiritual. A seguir, a
oração recitada pelo Papa: “Meu Jesus, eu creio que estais presente no
Santíssimo Sacramento do Altar. Amo-vos sobre todas as coisas, e minha
alma suspira por Vós. Mas, como não posso receber-Vos agora no
Santíssimo Sacramento, vinde, ao menos espiritualmente, a meu coração.
Abraço-me convosco como se já estivésseis comigo: uno-me Convosco
inteiramente. Ah! não permitais que torne a separar-me de Vós!”.
Antes de deixar a Capela dedicada ao Espírito Santo foi entoada a
antífona mariana “Regina caeli”, cantada no tempo pascal: “Rainha dos
céus, alegrai-vos. Aleluia! Porque Aquele que merecestes trazer em vosso
seio. Aleluia! Ressuscitou como disse. Aleluia! Rogai por nós a Deus.
Aleluia! D./ Alegrai-vos e exultai, ó Virgem Maria. Aleluia! C./ Porque o
Senhor ressuscitou, verdadeiramente. Aleluia!”.
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